Mostra "Faroeste espaguete" e concerto "Música de cinema" agitam o PA
Programação une homenagem ao faroeste italiano, no Cine Humberto Mauro, e o concerto "Música de cinema: Era uma vez no faroeste", no palco do Palácio das Artes
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Entre as décadas de 1950 e 1960, Hollywood vivia uma de suas maiores crises. Com a chegada da TV, milhões de norte-americanos deixaram de ir aos cinemas e, consequentemente, as bilheterias despencaram. Muitos cinemas faliram.
Para piorar, os estúdios tinham que obedecer ao Código Hays do governo estadunidense, que censurava as produções. Beijos longos eram vetados, assim como cenas de casais dormindo na mesma cama (mesmo que os personagens fossem casados). Não podia ter pessoas LGBTQIA+ e, obrigatoriamente, os heróis deveriam triunfar sobre os vilões.
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O faroeste, gênero extremamente popular desde meados da década de 1930 e adequado ao Código Hays, também vinha perdendo força. Os filmes não criavam mais conexão com o público.
Em contrapartida, surgia na Itália uma alternativa ao western do Tio Sam. Diretores como Sergio Leone, Sergio Corbucci e Enzo G. Castellari aram a fazer filmes do gênero, mas com anti-heróis e personagens ambíguos como protagonistas, violência estilizada, subtramas políticas e trilha sonora marcante.
O movimento ficou conhecido como Faroeste Espaguete – ou Spaghetti Western – e projetou nomes como Clint Eastwood (embora seja americano, despontou com filmes de faroeste italiano), Lee Van Cleef (outro americano que deu um salto na carreira por causa do Spaghetti Western) e o compositor Ennio Morricone, um dos mais importante do cinema internacional.
Como homenagem a esse movimento, o Cine Humberto Mauro estreia, hoje (4/4), a mostra “Faroeste Espaguete”, que ficará em cartaz até 27 de abril.
Ao todo, serão exibidos cerca de 20 longas do gênero. Entre eles, o célebre “Por um punhado de dólares” (1964), “Três homens em conflito” (1966) e “Era uma vez no oeste” (1968), todos de Sergio Leone. Também estão na programação “Django” (1967), de Sergio Corbucci; “O retorno de Ringo” (1965), de Duccio Tessari; e “Corre homem, corre!” (1968), de Sergio Sollima.
“São filmes violentos, crus e cínicos, em que você não tem mais aquela divisão clássica entre bem e mal”, destaca Vitor Miranda, gerente do Cine Humberto Mauro. “Diferente do faroeste dos Estados Unidos, que eram muito unidimensionais, no Faroeste Espaguete o protagonista muitas vezes sequer tem nome”.
“É uma figura enigmática, de moral duvidosa e que vai agir de acordo com os interesses dele”, continua ele. “Essa ambiguidade moral e esse clima cínico de desilusão social nas tramas ressoava muito na sociedade da época”, afirma.
Trilhas revolucionárias
Outro ponto marcante do Faroeste Espaguete é a trilha sonora. Mérito de Ennio Morricone, que revolucionou a maneira de fazer trilha sonora no cinema. Ele não fazia apenas músicas de fundo, suas composições se tornavam parte essencial da narrativa. Por isso, ele é o homenageado do concerto “Música de cinema: Era uma vez no faroeste”, apresentado pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), neste sábado e domingo (5 e 6/4), no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.
Mostra de cinema e concerto não fazem parte do mesmo projeto, trata-se da confluência entre os corpos da Fundação Clóvis Salgado (FCS).
“Decidimos unir dois projetos para associar os trabalhos desenvolvidos pela Fundação”, explica o regente assistente da OSMG, André Brant. Ele vai reger os concertos do fim de semana.
“Música de cinema: Era uma vez no faroeste” não vai se limitar às composições de Morricone. O programa do concerto conta com a icônica abertura do 20th Century Fox – o estúdio é responsável por alguns clássicos do faroeste, como “Paixão dos fortes” (1946), de John Ford; e “Butch Cassidy and the sundance kid” (1969), de George Roy Hill –, um tributo à série contemporânea “Yellowstone” e a abertura da ópera “William tell”, de Rossini. Embora tenha sido composta no século 18, muito antes dos faroestes, a obra de Rossini é constantemente utilizada em filmes do gênero.
“As pessoas não conhecem pelo nome, mas basta ouvir um pequeno pedaço que já identifica”, garante o maestro. A orquestra também apresentará uma peça autoral de Fred Natalino. A obra reúne trilhas sonoras mais marcantes de todos os tempos. Durante a apresentação, trechos dos filmes citados serão exibidos.
“A ideia é que o público assista ao concerto, ouça as músicas dos filmes e depois vejam os filmes ao longo do mês”, afirma Vitor Miranda. “É como se fosse um aperitivo para o público. Um incentivo para assistirem aos filmes”, conclui.
MOSTRA FAROESTE ESPAGUETE
De 4 a 27 de abril no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Nesta sexta-feira, exibição de “Por um punhado de dólares”, às 15h, e de “Por uns dólares a mais” (1965), de Sergio Leone, às 17h. Sábado: "Django", às 15h; “Três homens em conflito”, 17h. Domingo: “Era uma vez no Oeste”, às 20h. Entrada franca, com retirada de um ingresso por pessoa a partir de meia hora antes de cada sessão, na bilheteria do cinema.
MÚSICA DE CINEMA
Concerto da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Neste sábado (5/4), às 20h, e domingo, às 18h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), na bilheteria do teatro ou pelo Eventim. Informações: (31) 3236-7400.